Uma Voz Para Mim
O Método Definitivo Para Encontrar “A Voz Dentro de Mim”
— de Sara Carvalho (26/08/2021)
Eles atiraram na garota branca primeiro. Viveu lutando para alcançar a justiça e morreu aos pés de uma estátua que representava a tirania. Ao menos foi rápido. Mas tudo que ela queria era igualdade.
E ele também.
Você deve ter entrado aqui procurando saber: “Afinal, Como Posso Ter Uma Voz que será ouvida nesse mundo tão vasto? Como marcarei o mundo?”
Responderemos logo mais. Por enquanto, deixe-me falar sobre a vida dele.
A alguns anos, tivemos o conhecimento da vida de Ariel de Andrade. Naquele tempo ele não passava de mais um branco oprimido pela sociedade.
Hoje sabemos muito mais do que nos contaram.
A começar por sua infância, sempre enfrentou as dificuldades de um garoto branco, sem educação básica e pobre.
Sua mãe era o único parente que ele tinha. A Sra. Andrade, que fazia papel tanto de pai quanto de mãe, divulgou um pouco de como era a vida daquele garoto loiro.
— Ele vivia sendo parado pela polícia. Você sabe como é viver do jeito que a gente vive. Eu sempre alertava ele: Não ande com pessoas que não querem nada com a vida. Essas pessoas só querem te explorar.
— E o que ele respondia? — perguntou a repórter.
— Olha… — Ela parou um tempo enquanto olhava para o teto. Seus olhos começaram a brilhar em lágrimas. — Eu sempre disse… que ser parado pelos policiais era melhor do que por bandido… Mas ele não parava quieto. Gostava de ir naquelas festas, sabe?
E foi em uma dessas muitas festas; na realidade, em um bloco de Carnaval — que ele conheceu Bruna, uma menina negra da cidade grande.
Os dois, porém, se envolveram muito depressa e acabaram tendo filhos antes do esperado e devido à pressão familiar, os dois se casaram aos 19.
Ninguém entendia como um branco pobre e uma mulher de família conseguiriam aguentar um casamento e duas crianças.
E não ao contrário do que alguns poderiam pensar, Bruna conseguiu virar uma advogada muito respeitada em sua cidade. E Ariel, com ensino médio incompleto, só conseguia trabalhos de meio período.
E Bruna fazia questão de comentar para quem quisesse ouvir que ela tinha mais sucesso que seu esposo.
— Ela ficava falando que Ariel recebia menos que ela e essas coisas na nossa frente — relatou um dos amigos do casal.
E embora aquilo fosse verdade, todos sabiam que isso não era lá um grande motivo para o considerar preguiçoso.
— Ele era muito prestativo — continuou o amigo. — Todo mundo sabia que ele cuidava bem das coisas na casa dele. Era ele quem preparava a comida, ao menos quando íamos lá. E era muito boa para falar a verdade. Assim, na minha opinião, ele era um pai muito esforçado e atencioso.
Também se voluntariava para ajudar em mudanças; a fazer a comida na casa dos amigos; levar os cachorros para passear; lavar a louça dos colegas — e a lista de coisas que fazia só aumentava.
Mas quando isso era mencionado ao seu favor, Bruna fazia questão de convencer a todos que aquilo não passava de sua obrigação.
— E ela ficava falando e falando que ele era mais preguiçoso do que a gente pensava e não sei o quê. Era uma coisa bem… Era chata. Ninguém aguentava ela em uma discussão. Não sei se isso tinha alguma coisa a ver com ela ser uma boa advogada. Na minha opinião, ela ganhava no grito.
Além disso, vários amigos e parentes próximos relatavam que ela dizia castigar Ariel caso ele deixasse a tampa da privada aberta ou quebrasse um copo; mesmo que sem querer.
— Eu faço é arrancar os ovos dele — ela dizia, segundo seus amigos. — Ele não é nem louco de me desobedecer. — E caia na risada.
Todos, julgando serem comentários inocentes, também riam da situação. Pois, pensavam que não passava daquilo, comentários engraçados.
Mas como diria o psicológico Cícero Santos: “Toda brincadeira, de certa forma, tem um fundo de verdade.”
E a verdade dessa brincadeira era que, quando Bruna se aborrecia com Ariel, ela o privava de comer.
— Eu sabia que ela ia para casa mais cedo do que o Ariel — disse a chefe de Bruna. — Dizia brincando que era para ver se pegava seu marido a traindo. A gente ria.
Mas a realidade era diferente. Assim que chegava em casa, pegava toda comida que podia encontrar e trancava ou escondia em algum local que Ariel não poderia alcançar.
— Ela colocava toda a comida no quarto dela e fechava por dentro — relatou a filha mais velha do casal. — Eles não dormiam juntos.
Ariel dormia no sofá. Mas isso eram nos dias em que Bruna não estava tão mal-humorada. Nos piores dias, ele dormia trancado no carro de Bruna.
— Como era minha mãe que controlava o dinheiro dele, ele não tinha dinheiro para comprar nada. E por vários dias eu via ele chegar em casa, sem comer nada. Eu oferecia minha comida escondida da mamãe, mas ele nunca aceitava.
E quando passava mais de semanas que ficava sem comer na própria casa, Ariel andava mais de 26 km a pé até a casa de sua mãe, para enfim poder comer com qualidade.
Lógico que Bruna, ao saber disso, não gostava nada daquilo. Em tudo via um motivo para criticar a Sra. Andrade, e ela não poupava palavras em menosprezar o local onde a mãe de Ariel morava, as roupas humildes que trajava ou a cor de sua pele.
Para puni-lo ainda mais por não cortar laços com sua mãe, Bruna ameaçava Ariel por meio de ligações e mensagens de voz.
Entre ameaças de morte, violência física e às vezes até sexual, a ameaça que sempre o fazia abaixar a cabeça era a de perder Bruna.
— Eu dizia: Meu filho, largue essa mulher, largue essa mulher — relatou a Sra. Andrade. — Venha para casa. Você não precisa dela para viver. Você não precisa dela. Mas ele tinha muito medo de ficar sem ninguém. E ainda tinha as filhas, né?!
Com o medo de perder Bruna, ele sempre voltava correndo para casa, para implorar para que ela não o largasse.
Eram nesses momentos que ela se vingava dele; O deixava trancado do lado de fora da casa.
— Eu dizia para a minha mãe: Mãe aqui, ele chegou. Mas ela deixava ele dormir no chão frio do lado de fora.
— Às vezes — continuou a mãe — ela que vinha até aqui atrás dele. Pegava ele pelos cabelos e dava um montão de cinturada nele até que entrasse no carro. Eu tentava proteger meu filho, porque era meu filho, eu era mãe dele, ela não tinha que bater no meu filho. E ela me jogava no chão.
Quando Bruna chegava em casa, deixava Ariel trancado no carro, até o dia seguinte.
Além das filhas, os vizinhos também viam aquilo. E embora nenhum deles tenha prestado queixa ou falado sobre o assunto, chegaram a comentar ouvirem os gritos abafados de Ariel.
Também tinham vezes em que ouviam as coisas quebrando em casa. E lógico, às vezes em que ele se ajoelhava na frente da própria casa, implorando para Bruna o deixar entrar.
E Ariel nunca passou muito tempo em um emprego por conta disso. Pois às vezes não podia ir ao trabalho por estar preso no carro. Outras vezes Bruna o obrigava a se demitir.
— Era um inferno quando ele não tinha trabalho — comentou sua filha mais nova. — A mamãe ficava brigando com ele o tempo todo, dizendo que ele era um inútil.
A filha mais velha do casal, acrescentou:
— Era. Até hoje eu não sei o que minha mãe tinha na cabeça. Eu falava para ele fugir ou sei lá. Mas ele nunca fez nada. A gente achava até que ele gostava de ser tratado daquele jeito.
— Pois é — confirmou a irmã mais nova. — Eu ficava me perguntando quando aquele inferno ia acabar. Mas a gente só conseguiu sair de lá quando cresceu, quando ficamos maiores de idade.
A ideia era que talvez Ariel estivesse amarrado ao casamento por conta das filhas. Mas quando ficaram maiores de idade, as coisas não mudaram muito.
— A gente até tentou ajudar, mas… Não foi bem assim.
Depois de um tempo, ele finalmente arranjou o seu último emprego: Era um Limpador de Banheiros em uma empresa farmacêutica. Lá ele era encarregado especificamente de limpar o banheiro feminino.
Ariel nunca foi de ter amigos íntimos, principalmente depois de se relacionar com Bruna já que ela o privava de ter amizades. Mas naquele lugar as coisas foram um tanto diferentes.
Principalmente porque ele era especificamente o limpador do banheiro feminino.
— Uma pessoa muito gente boa — falou uma das mulheres que trabalhavam lá. — Carismático, de boa aparência, falava bem. Resumindo, se dava bem com todo mundo. Mas todo mundo sabia que ele era mais chegado com a Paula e a Maria. Ah! Isso ele era.
Paula era uma das chefes mais respeitadas na empresa. Andava sempre usando preto e adorava falar sobre dinheiro.
— Ela adorava falar em como ia ganhar um aumento, em como ia subir na empresa. Coisa que, nossa, o Ariel detestava. E como detestava! Sempre mudava de assunto. Ele não se prendia a desejar um futuro ambicioso, entende?
Ariel era o mítico homem que preferia fofocar sobre a vida alheia, puxar conversa afiada, falar lorotas e expulsar toda carga negativa que uma reunião de negócios trazia.
E ao contrário do que qualquer um poderia achar, era justamente isso que fazia Paula, e todo mundo, gostar tanto dele.
Todas às vezes que passava pelos banheiros puxava assunto especificamente com Ariel. E ele, no que lhe concerne, fazia questão de atender suas expectativas.
— Uma pessoa maravilhosa, sem dúvidas. Mas olha, se a gente achava que ele se dava bem com a Paula, a gente achava que ele se dava hiper bem com a Maria. Talvez até melhor. Bem, era o que a gente achava.
Essa era a segunda pessoa: Maria. E de fato, os dois eram quase inseparáveis na empresa. Todos viam o jeito que ela olhava para ele, e o jeito que ele, um tanto acanhado, fingia não notar.
O quê ninguém sabia era que os dois tinham um relacionamento mais obscuro do que se podia pensar.
E que talvez eu como mulher não possa comentar sobre isso, devido ao conteúdo sensível.
Mas em seu blog — inicialmente chamado de Uma Voz Para Mim, Ariel escreveu sobre seu relacionamento com Maria.
O artigo foi intitulado: A Sensação de Madeira Raspando no Dente.
— Nós não fazíamos ideia de que ele tinha aquele site — disse a colega de trabalho. — Nem sabíamos o que ele estava passando. Foi um choque para todo mundo quando a gente descobriu a verdade. Mas isso só foi depois de um tempão.
E apenas alguns anos depois, foi que descobriram que Maria o abusava quase diariamente no trabalho.
— Ele limpava o banheiro feminino, então não faltava oportunidade para a Maria, né. Mas não é querendo justificar o que fez, entende? É só que… Ahm. A gente não sabe o motivo dele não ter relatado isso para ninguém, sabe!?
Talvez sentisse medo. Medo de não acreditarem nele. De não dar em nada. Medo do que iriam achar dele. Medo de ser chamado de fraco.
Talvez falassem que ele não era homem. Que merecia passar por aquilo, pois fez algo para merecer. Que foi ele que provocou Maria, pelo simples fato de ser homem.
O preço que um homem paga ao contar sobre essas agressões, por vezes, sai mais caro do que o ato, pois depois da humilhação, ainda tinha de enfrentar comentários da sociedade.
“A culpa é sua.” É o que costumam dizer.
— É triste saber que tanto em casa como no trabalho ele passava por situações horríveis — disse a filha mais velha do casal. — Meu pai não merecia nada disso. Ninguém merece passar por isso.
Mas tudo isso mudou quando um dia Ariel recebeu um e-mail.
O e-mail anônimo o convidava a se juntar a um grupo machista, que buscava direitos iguais entre os gêneros e lutavam contra o racismo.
Ariel não sabia, mas o anônimo por trás dos e-mails era Samantha, uma das líderes do grupo. E no futuro, uma grande parceira sua. Mas como Ariel não sabia muito sobre o movimento machista, não deu atenção às primeiras mensagens.
— Ele publicou um artigo assim que recebeu um e-mail — disse um dos membros anônimos do grupo. — Era como se dissesse que não precisava de um movimento para lutar pelo respeito. — Riu. — A maioria dos homens desinformados pensam que a sociedade não é tão feminista quanto dizem ser. E falar que as mulheres oprimem os homens talvez pareça uma teoria da conspiração para alguns.
Mas depois de receber o sétimo e-mail de Samantha, Ariel resolveu pesquisar sobre o assunto. Então começou a publicar artigos falando que os homens só tinham direito ao voto graças ao movimento machista.
— Só que ele era teimoso, e ainda demorou um bocado para enviar uma resposta.
Só enviou uma resposta quando recebeu um texto muito famoso de Samantha. Esse texto é conhecido até hoje como um texto básico para se ingressar em qualquer grupo machista.
“Desde sempre os homens foram explorados pelas mulheres. Desde a aurora do tempo; em algum momento entre os Neandertais e Cro-Magnon, as fêmeas ficavam no interior das cavernas, fazendo comida para os bebês e penteando os próprios cabelos, enquanto os machos — armados então somente de porretes, iam à caçada para enfrentar leões e ursos.
“Na época da primitiva agricultura e pecuária, as mulheres, com seus poderes de liderança, atribuíram aos homens tarefas mais pesadas, como de carregar as pedras e domar os cavalos, abrir sulcos na terra com arado, enquanto elas ficavam em casa pintando potes e brincando de tecelagem.
“No feudalismo era pior. Os homens iam para as batalhas enquanto as mulheres curtiam, no bem-bom, os belos poemas compostos pelos guerreiros.
“E em suma, os homens morrem nos campos de batalha, carregam pedras, erguem edifícios, lutam com feras, atravessam desertos, mares e florestas, sacrificando tudo pelas mulheres, aos quais não sobra nenhum desafio mais perigoso do que sujar as unhas ao decretar o que deve ser feito em seus grandes cargos de liderança.”
E assim supomos que Ariel compreendeu que os números não mentiam. Viu serem as mulheres quem eram, e sempre foram, as que ocupavam os maiores números de cargos de liderança.
— Em especial as negras, sabe? — continuou o anônimo. — Não falta prova histórica de que elas achavam que por conta da melanina que as protegia do sol, tinham recebido uma benção divina ou coisa parecida. Daí veio a escravidão, a tal da raça ariana e essas outras imbecilidades que ocorreram no mundo por conta de cor de pele.
E foi com esse e-mail que ele aceitou o chamado de Samantha para conhecer melhor o grupo dos machistas. Eles se reuniam em qualquer lugar, geralmente na casa de qualquer membro que participava do grupo.
Lá ele descobriu quem era a menina que o mandava mensagem: Uma garota branca de 17 anos, loira e de olhos verdes — esta era Samantha.
— Ah! Ele adorava a companhia dela. Tratava ela como uma filha. Viviam se falando, sabe? Era uma amizade bem especial. Mas não pense que ele só era chegado a ela. Todos o adoravam. Todos!
E fosse ao horário de almoço ou até depois do trabalho, Ariel sempre dava um jeito de se encontrar com o grupo, o que não ajudou muito em casa, já que Bruna começou a suspeitar de sua mudança.
Após algumas semanas de encontro, Ariel se tornou mais militante em suas ideias. Mudou o nome de seu blog para Uma Voz Para Os Homens.
E junto de Samantha, começou a escrever sobre igualdade, inicialmente de forma tímida, falando sobre gênero, cor de pele e acima de tudo o amor.
Foi uma mudança gradativa, bem tímida para falar a verdade. Só não foi tão tímido o reconhecimento que seu ‘blog’ teve. Viralizou pelo país inteiro. E depois disso em todos os países que falavam seu idioma. Até começarem a traduzir seus artigos para outras línguas.
Vários de seus posts viralizaram. E ninguém suspeitava que o autor fosse um simples limpador de banheiro feminino.
— Um dia ele chegou aqui em casa totalmente mudado — relembrou a Sra. Andrade. — Eu olhei para ele e pensei que aquele não era meu filho. Parecia mais seguro, sabe? Mais decidido.
Mas ainda precisaria de muita confiança para finalmente aceitar ir à sua primeira manifestação. Como teria de ir, pela primeira vez, pessoalmente, corria o risco de se expor.
E tal confiança ainda tardaria a acontecer.
Por conta dos novos comportamentos, teve problemas sérios dentro de sua casa. Sua ex-colega comenta:
— Ele estava mais vivo, dava para ver. Mas ele começou a chegar com umas marcas roxas no corpo. Uma vez ele até chegou com um dos dedos com a ponta arrancada, acreditam nisso? Eu fiquei horrorizada, mas assim, dava para ver que ele estava diferente. Como se o peito estivesse mais estufado, entende?
— É, ele falou para a gente sobre as agressões da mocreia da mulher dele — disse o anônimo. — Mas ele era muito besta para fazer qualquer coisa.
No entanto, o dia em que sua coragem seria testada havia chegado. Maria o tentou mais uma vez, e dessa vez ele teria de fazer algo a respeito.
— Ele saiu correndo — riu o anônimo. — Empurrou a mulher e saiu correndo. Ele contando foi muito legal!
E assim se livrou dos agarrões de Maria de uma vez por todas. Ela nunca mais o abusou daquela maneira de novo, e ele nunca mais postou sobre como se sentia quando era abusado.
Até hoje suspeitam que fora essa conquista que deixou Ariel de Andrade mais confiante ao ponto de aceitar ir à sua primeira manifestação.
A manifestação seria contra a estátua recém-erguida a Verônica Leindecker, considerada uma das maiores tiranas escravistas do século XVIII. Por conta disso, praticamente todos do grupo iriam, e isso era um número realmente muito grande.
Todos foram divididos em dois grupos, um que ia à frente — Samantha era quem liderava, junto de Ariel — e outro que ia atrás. O objetivo era derrubar a estátua antes das autoridades chegarem, enquanto os de trás davam cobertura.
Entretanto, quando a manifestação deu início, os policiais já estavam a esperá-los.
O anônimo que estava no grupo traseiro relembra, com indignação:
— Tinha um informante no grupo! Eu nem acreditei naquela m*rda. Vocês não têm ideia da raiva que eu senti. Mas fazer o quê?! A gente tinha de derrubar aquela aberração de qualquer jeito!
As autoridades começaram a usar balas de borracha, granadas de fumaça e cassetetes de densidade variável. O problema era que não havia motivo para aquilo, pois até então tudo não passava de uma manifestação pacífica.
Alguns dos manifestantes foram presos na frente da estátua. No meio deles estava Samantha, com Ariel logo ao seu lado. E ali as autoridades receberam a ordem de matar alguns dos manifestantes.
— Não tinha provas contra a gente! A gente não fez nada. Então eles tiveram de forjar algumas, saca.
E aos pés da estátua, que representava a opressão negra e a escravatura dos brancos, Samantha foi a sorteada. Um tiro certeiro no meio da testa. Não houve tempo de protestar.
— Eu não vi. Eu tinha conseguido fugir com a galera do grupo da retaguarda… Eu não vi, não.
Alguns outros também foram sorteados. Ariel não foi um deles. Foi um dos poucos que sobreviveu para ser enviado à cadeia, com o peso na consciência de ter visto sua querida amiga falecer. Quem o tirou de lá foi sua mãe.
— Eu não acreditei quando soube. Eles falaram que ele tinha se envolvido com um grupo terrorista. Eu pensei comigo mesma: Não, meu filho nunca faria isso!
E após sair da cadeia, Bruna nunca mais deixou Ariel voltar para dentro de casa.
Porém isso era apenas o começo de seus problemas. Quando voltou ao trabalho para receber as contas, todos o encaravam de uma forma muito estranha. O motivo, era que Maria, após saber do envolvimento de Ariel naquele grupo considerado extremista, espalhou para todos que havia sido vítima de abuso.
— A gente achou hiper estranho aquela atitude do Ariel — relata a ex-colega. — Poxa, ele era alguém tão legal e tal. E do nada você descobre que ele fazia parte de um movimento terrorista, ou sei lá. Quando a Maria falou, a gente acreditou, né? Ele já tava queimado… Por assim dizer.
Paula gravou a conversa que teve com ele para ver se conseguia tirar dele uma confissão; a intenção era limpar o nome da empresa.
No áudio não dá para ouvir Ariel, apenas algumas balbúrdias; porém é possível ouvir Paula.
— Eu sei, Ariel — disse Paula, hesitante. — Mas… Olha, nós infelizmente não podemos fazer nada. Meu conselho é que você vá até à justiça e esclareça tudo…
E houve uma resposta de Ariel. Sua voz parecia ainda mais comprimida do que o normal. Porém não se dá de ouvir nada além de sussurros.
— Eu entendo, Ariel. Mas não podemos deixar você ficar aqui. A notícia já se espalhou, e por mais que eu acredite em você, temos de manter o nome da empresa. Compreende? Precisamos deixar você de fora, por enquanto. Ao menos até essa situação ser resolvida.
Ariel tentou recorrer à justiça. Mas não devia ter esperado muito dela, pois aconteceu algo muito peculiar e não tão incomum.
— O Ariel estava em uma situação complicada — relata uma das que acompanhou o caso de perto. — Porque o mero fato dele ser limpador de banheiro, especificamente, o feminino, já o fazia ser um predador sexual em potencial. Mas a coisa só se complicou mesmo quando a esposa dele entrou no caso.
Bruna, que soube do caso, começou a fazer campanha a favor de Maria.
Inventou que Ariel a traía; por conta dos encontros que tinha depois do trabalho com o grupo. Disse que ele tentou várias vezes agredi-la e ela se defendeu; justificando os roxos e a mutilação. E por fim prestou queixa contra ele.
Ela disse tudo. Humilhou-o por não ter emprego decente e, segundo ela, explorá-la monetariamente. Falou das vezes em que dormia no carro apenas para, segundo Bruna, não dormir com ela. Às vezes em que ia à casa da mãe; assim, segundo ela, negligenciando seu dever como pai e marido. E às vezes que implorou de joelhos para ele voltar para casa.
Com o caso pegando notoriedade pela mídia, ele teve de se defender.
Mas outra surpresa veio: descobriram que o autor do site Uma Voz Para Os Homens, considerado por muitos um site extremista, era dele. Também descobriram seu envolvimento com Samantha, suas trocas de e-mails e encontros.
— Depois disso, a acusação de traição da esposa começou a fazer mais sentido.
E uma última vez ele tentou se defender. E foi essa última vez que o prejudicou de pior forma que as outras.
Não foi difícil interligar que Ariel fez parte da manifestação violenta. Por isso, as autoridades entraram em cena e o responsabilizaram pela morte de todos, incluindo, especificamente, Samantha.
— Era mentira, claro. Mas eles tinham uma prova bem convincente — relatou a mulher.
Todas as autoridades usavam câmeras escondidas, e o vídeo que, teoricamente, seria para mostrar que Ariel era inocente fez o contrário. Era um vídeo dele atirando a sangue-frio em Samantha.
— Engraçado o que a tecnologia hoje em dia não faz — comenta o anônimo. — Eu mesmo acreditei no vídeo. E muito tempo depois é que a gente descobriu que era deep fake. Mas assim, mesmo tendo o vídeo, não tinha motivo para ele ter atirado na Samantha. Até a internet achar um.
Não demorou nada para alguém, nas redes sociais, comentar: “Vai ver que ele tinha algo contra ela.”
Até se transformar em: “Sim! Ele abusava da Samantha como fazia com a Maria!”
E a bola de neve rolou até se tornar em: “E para não ter provas disso, ele aproveitou para matá-la no meio da confusão.”
E então esqueceram completamente a acusação de Maria. A internet, com suas manchetes sensacionalistas, transformou toda a historia em: Autor de Blog Machista É Acusado de Abusar e Matar Uma Menor de Idade.
Ninguém sabia o que se passava na cabeça de Ariel. Ele não escreveu mais nada depois de ser acusado de um crime que não cometeu, contra alguém que amava tanto; sua querida amiga — Samantha.
Claro, tudo isso não passava de uma mentira deslavada. Não havia muitas provas para sustentar as acusações; na verdade, havia mais provas aliadas a Ariel do que contra.
Porém, a juíza resolveu colocar Ariel na cadeia por um curto período de tempo; forma que achou ser adequada para acalmar a mídia.
— Mas é lógico que as histórias chegaram até a cadeia lá — disse o anônimo. — E convenhamos, a gente sabe o que acontece com um homem que é acusado de abusar de menor na cadeia. Todo mundo sabe. Nós não passamos por isso. Quero dizer… Nunca vi relatos assim com mulheres.
— Eu sinto muito falta dele — relata sua filha mais nova. — Ele não merecia nada disso.
— Eu também — disse a mais velha. — Faço das palavras dela as minhas. Tenho muito orgulho do meu pai. Do que ele foi.
— Sinto saudade do meu filho. Ele era uma pessoa maravilhosa. Me dói saber que nunca mais vou ouvir a voz dele.
Na manhã seguinte, na cadeia superlotada de sua cidade, Ariel foi encontrado morto em sua cela.
Anos depois de sua morte, foi completamente provado a sua inocência.
Os processos contra quem lhe prejudicou ainda rolam até hoje. E a Sr. Andrade, e as filhas de Ariel, e seus amigos, esperam justiça até hoje.
A história de Ariel de Andrade é mais uma no meio de tantas injustiças que ocorrem no mundo. Nas vozes que são comprimidas pela sociedade.
Mas comecei este artigo com uma promessa, a promessa de te mostrar Como Conseguir Uma Voz nesse mundo tão injusto.
Caso você faça parte de uma minoria, como Ariel de Andrade, talvez sinta medo de passar pelas mesmas injustiças que ele passou.
Caso você seja como eu, uma mulher privilegiada, porém com forte senso de justiça, talvez pense ser incapaz de mudar qualquer coisa.
Mas para arranjarmos uma voz, uma voz que as pessoas nos reconheçam, temos que primeiramente mudar do lado de dentro, para só então mudarmos o mundo a nossa volta e deixar nossa voz.
Não é fácil mudar. Não é fácil fazer o mundo nos ouvir. Tão pouco sozinho. Mas é por isso que eu, Sara Carvalho, junto com minha equipe, preparamos um material mais que especial para você.
É o Método Quântico da Mudança Interior 3.0, onde ensinamos, por meio de profissionais qualificados, a como você pode encontrar sua voz interior e finalmente mudar.
A agregar no mundo. A somar a sua volta. A deixar sua marca no mundo.
Se junte aqueles que querem realmente crescer por apenas 12x de 49,90. Mas é por tempo limitado, até amanhã.
Não deixe que um mundo tão injusto quanto o nosso, cheio de gananciosos e oportunistas; que tampam as vozes dos outros por pura ambição, tire essa oportunidade de você.
Tenha alegria em viver. Mostre ao mundo para o que veio. Inscreva-se agora!
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